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Asma

Todo excesso faz mal, até com os medicamentos

Publicado

Autor/Imagem:
Ludimila Honorato

A asma é uma doença inflamatória crônica, sendo necessário seguir com o tratamento de forma correta e sem interrupções. Porém, dependendo do grau da enfermidade, algumas pessoas ou deixam de tomar o medicamento por certos períodos ou fazem uso exagerado deles. Em ambos os casos, além do difícil controle, os riscos de complicações e efeitos adversos são altos.

Especialistas ouvidos pelo E+ durante o 12º Congresso Brasileiro de Asma, que ocorreu em João Pessoa na semana passada, são unânimes em afirmar que a adesão ao tratamento, principalmente da asma grave, é um problema sério. Dos 20 milhões de asmáticos no Brasil, apenas 12% tem controle da doença.

“Não é só falta de acesso à medicação. Falta conscientização, informação, entender a doença e a importância do tratamento”, diz Raissa Cipriano, presidente da Associação Brasileira de Asma Grave (Asbag). Em muitos casos, o paciente começa a usar a medicação corretamente, mas para quando sente uma melhora e usa apenas quando tem uma nova crise asmática.

“Você não usa o remédio para tratar a crise, você usa o remédio para não ter crise”, alerta João Rio, pediatra e endocrinologista pediátrico pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Segundo ele, o bom controle da asma inclui saber usar a bombinha adequadamente. O dispositivo contém corticoide — e broncodilatador se necessário — que vai agir na inflamação das vias aéreas. Assim, a passagem de ar antes contraída volta ao normal e a pessoa respira livremente.

Mas se o paciente não estiver numa postura correta, pode depositar todo o medicamento no fundo da garganta, sem atuação nos pulmões. Além disso, como a maioria dos asmáticos tem algum tipo de alergia, é importante eliminar do ambiente todo fator de risco para crises alérgicas.

Sem tratamento adequado, a asma tende a piorar e passar de leve para moderada ou grave. Na ausência de controle, a doença pode levar à morte independente do grau que se apresenta.

Excesso de medicamento
Uma pessoa diagnosticada com asma será classificada em leve, moderada ou grave de acordo com a quantidade de medicação que precisa para controlar a doença. O corticoide inalatório é o primeiro passo. Caso as crises continuem, associa-se um broncodilatador. Se ainda assim não houver controle, é receitado um corticoide sistêmico, oral ou endovenoso.

Rio explica que este último geralmente é prescrito para quando a pessoa sente que vai entrar em crise ou já começou. A orientação é usá-lo junto com a bombinha por um período de três a cinco dias. Mas com tantos medicamentos em altas doses à disposição e na ânsia de tratar a crise, o paciente pode exagerar.

“É aí que a gente perde um pouco esse contato médico-paciente para o controle da doença. Às vezes, ele fala que usa de vez em quando, mas usa todo mês o remédio inalatório mais o oral e não comunica ao médico”, avalia o especialista. As consequências desse excesso são a complicação da doença e o risco aumentado de efeitos adversos.

“O uso elevado de corticoide leva à obesidade, aumenta a resistência à insulina, podendo ter diabete tipo 2, tem risco aumentado de ter catarata ou glaucoma para quem tem predisposição e aumenta a perda de massa mineral óssea”, enumera Rio. Altas doses de corticoide no organismo também podem desregular o eixo de produção natural da substância e predispor a outras doenças, como a síndrome de Cushing.

Crises no tratamento
Mas há casos em que a asma se apresenta de forma tão grave que a pessoa, mesmo em tratamento correto, sofre com os impactos da doença. “Tem um grupo de paciente com um padrão de doença diferente, perfil e inflamação diferentes. A principal característica é que são refratários [não respondem] ao tratamento convencional”, diz o pneumologista Roberto Stirbulov, professor adjunto da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.

Segundo um estudo conduzido pelo Programa de Controle da Asma (ProAR), de Salvador, na Bahia, das 172 pessoas com asma grave avaliadas, 78,5% relataram ter tido, pelo menos, um agravamento nos últimos 12 meses. O problema foi definido como visita ao pronto-socorro, hospitalização ou ciclo de uso de corticoide oral.

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