Esses jovens...
‘Velho é quem tem preguiça de aprender coisas novas’
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Subo e desço escadas o dia inteiro. No meu trabalho, o prédio é antigo, histórico, e não tem elevador. O que significa que, se eu esquecer alguma coisa no andar de baixo, não é só um lapso de memória—é um treino cardiovascular involuntário.
Outro dia, no meio dessa rotina de sobe-e-desce, cruzei com um jovem funcionário novo, daqueles que ainda acreditam que a juventude é um passe livre para o vigor eterno. Ele vinha subindo os degraus com uma expressão de profundo arrependimento, suando como se estivesse escalando o Himalaia sem oxigênio. Quando me viu passar tranquilamente, bufou:
— Pô, João, como é que você sobe isso tudo sem nem parecer cansado?
Dei de ombros e continuei meu caminho. Afinal, já perdi a conta de quantas vezes fiz esse trajeto. Mas a cena me fez pensar: tem algo de errado nessa história de que juventude significa disposição e idade significa cansaço.
Dizem que a idade está na cabeça, mas o joelho e a lombar discordam. Isso é verdade. Mas também é verdade que tem muito jovem que já nasceu cansado. Já reparou? Gente de 20 e poucos anos que se arrasta logo pela manhã, vive de energético, precisa de aplicativo para lembrar de beber água e acha que dormir menos de oito horas é prova de comprometimento com a vida.
Enquanto isso, eu sigo subindo e descendo escadas como se fosse parte da mobília do prédio. Aos 57, aprendi que disposição tem mais a ver com hábito e vontade do que com número de velinhas no bolo. E que essa obsessão moderna por associar juventude a energia e maturidade a declínio é, no mínimo, um erro conceitual.
Prova disso foi um dia desses, quando precisei descer para buscar um documento. Na porta do prédio, um grupo de jovens fumava, com aquele ar blasé de quem acredita que um cigarro entre os dedos é um símbolo de charme e rebeldia. Passei por eles, e um me olhou de lado, talvez tentando adivinhar minha idade.
Pensei comigo: a maior prova de jovialidade que tive nos últimos anos foi justamente ter parado de fumar. E não falo da jovialidade estética, da pele sem rugas ou dos dentes brancos—falo da inteligência. Da quebra de um conceito que um dia foi bonito e hoje me parece só um fetiche antigo da indústria do cinema.
Se me perguntassem hoje um conselho para se manter jovem, eu diria: suba mais escadas e pare de fazer pose para a vida. Acredite, nada envelhece mais do que sustentar hábitos que, no fundo, só fazem sentido num roteiro mal escrito.
Afinal, como bem disse alguém mais sábio que eu: “Velho é quem tem preguiça de aprender coisas novas. O resto é só um jovem há mais tempo que os outros.”
