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O país é este, Renato Russo

Viagra, próteses e picanha não garantiram o silêncio dos generais

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Autor/Imagem:
Armando Cardoso* - Foto de Arquivo

Entre golpistas sonhadores, tocadores de bumbo para maluco dançar e encantadores de “patriotas”, finalmente fui informado de que ainda há militares sérios no Brasil. E são muitos. Na verdade, são a maioria. Aliás, invertendo a ordem, os bajuladores de duendes e defensores do caos é que são poucos. São em número muito menor do que o mito havia decantado. Graças aos céus, diante da sujeira que manchou os palácios, percebemos a tempo que ainda temos militares que respeitam as quatro linhas. Confesso que estava sem dormir, pois cheguei ao cúmulo de imaginar que não tinha mais resposta para a velha indagação do poeta brasiliense Renato Russo.

Que país é esse? Sinceramente, ainda não sei o que dizer com certeza. Hoje, acredito que pelo menos um cidadão não terá mais força para vender todas as almas de nossos índios em um leilão. Ele manchou todos os papéis e documentos que encontrou sobre a mesa de mármore verde e amarelo. Por pouco, com a ajuda dos infiéis, quase descansou sob o sangue solto dos brasileiros fiéis à Constituição. Pois é isso, meu caro Renato Russo, também deixamos de ser piada no exterior e recuperamos o crédito no futuro da nação, mas a emoção ainda não acabou. Que país é esse? Era um arremedo e estava próximo de se transformar no país do faz de conta.

Posso estar fardadamente errado, mas , entre os milhares de homens dignos que, silenciosamente ou aos berros inaudíveis para a massa, lutaram por nossas liberdades, vale destacar as ações de um tenente-coronel, de um brigadeiro e de um general quatro estrelas. O primeiro entregou toda a rapadura. O brigadeiro disse não, enquadrou a deputada, silenciou a tropa e ameaçou com seu cassetete duro àqueles que se engraçassem. Mais falador e menos carrancudo, o general foi incisivo ao extremo, não o da direita. Segundo consta dos documentos salvaguardados por Xandão, o homem, com sua farda e coturno brilhando, teria dito ao covarde insurgente: “Teje preso se insistir com a marmota furada do golpe”.

O bicho pegou, mas felizmente, após os gritos da razão, a paz voltou a reinar no Amazonas, no Araguaia, na Baixada Fluminense, no Mato Grosso, em Minas Gerais e em todo o Nordeste. Com o olhar crítico e feroz dos seguidores do além, Brasília, Mossoró, Campo Grande, Catanduvas e Porto Velho ainda dormem um sono desafiador. Uma dessas localidades será o habitat regenerador do capitão de bravata. Em uma delas ele terá tempo para recontar seus dias de loucura plena, de depenar o pintinho amarelinho e, principalmente, de repensar sua longa vida de enganador e, às vezes, de aloprado consciente de um rebanho tosco e jocosamente apelidado de gado. Se eu estiver errado a respeito dos militares estrelados, tranquilamente darei a mão à palmatória, como já fiz com o moço que adoram chamar de “ladrão”.

Quanto ao protagonista do trabalho de Xandão, ele também poderá reavaliar o estrago de seus traumas da infância, as chibatadas mal dadas e as prováveis decepções nas casas decoradas somente para machos alfa, cuja sonoridade não impediu que áudios comprometedores vazassem para os porões dos que igualmente falharam. Não sei se entendem, mas, por conta do mal que assola idosos acima dos 100 anos, deve ter ficado só no hora veja, ou seja, babou apenas no travesseiro. Meu nobre Renato Russo, você é um de meus poetas preferidos. Por isso, sou obrigado a pedir perdão pela demora na resposta. Que país é esse? A resposta está próxima. Até agora, garanto que valeu o retardamento. Enquanto pensava, o Brasil dos seus e dos meus sonhos começou a clarear.

Desavisado sobre o sucesso das boas práticas, um tal Jair pensou que, como fizera com deputados, senadores, policiais militares e alguns federais, seria fácil cooptar Deus, o mundo, os generais e os brigadeiros. Comprou Viagra aos montes, próteses penianas aos borbotões e encheu de picanha o bucho dos que labutavam formas de perenizar o caos, a divisão social e a disseminação do ódio contra os pobres que não o aceitavam como mandatário. Não ganhou nada. Pelo contrário. Perdeu o timing, a eleição, a pose de vítima, o restinho de credibilidade e certamente daqui a pouco perderá a liberdade. Sujo com pau de galinheiro, mais do que o sol quadrado, provavelmente sua ex celência sentirá em breve o tamanho da chibata que nunca pode mostrar a seus pares. Pior será imprimir as digitais sob as vistas de um japonês da Federal. Que país é esse? Não é mais o Brasil do aprendiz de feiticeiro, tampouco dos agasalhadores de croquete que jamais deixaram de acreditar que o Haiti é aqui. Descanse em paz, poetinha. Ainda dispomos de generais e brigadeiros assertivos.

*Armando Cardoso é presidente do Conselho Editorial de Notibras

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