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Brasília, ontem

O dia em que JK foi mais poderoso que Eisenhower

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José Escarlate

Coube ao presidente Dwight Eisenhower lançar a pedra fundamental da Embaixada dos Estados Unidos da América em Brasília. Ele desembarcou do Air Force One às 14 horas do dia 22 de fevereiro de 1960 em Brasília, onde já o aguardava o presidente JK. Aliás, a bem da verdade, Juscelino estava atrasado para receber Ike. Tanto que 13:45 hs, o Air Force One já sobrevoava Brasília, sem que JK estivesse no aeroporto.

Corado de vergonha, Raul de Vicenzi, que chefiava o cerimonial da Presidência da República entrou em contato com diplomatas americanos para pedir que o Air Force One fizesse mais um procedimento de pouso a fim de aguardar a chegada do presidente brasíleiro, que estava atrasado. Só assim evitou-se uma grande gafe na primeira visita de Eisenhower a Brasília.

A bem da verdade, avinda do presidente americano a Brasília havia gerado alguma tensão, por suas idas e vindas. A época, os trabalhos de construção de Brasília estavam cada vez mais acelerados. Homens e máquinas circulavam nos mais diversos pontos da cidade. A poeirada era infernal e, para Juscelino, a vinda do governante americano a Brasília poderia gerar mais confiança no sentido de que a capital seria inaugurada dentro da data marcada.

O chamado ritmo de Brasília, funcionando em três turnos de oito horas, estava em pleno vigor. Operários trabalhavam até dois turnos seguidos, aumentando o faturamento.

Israel Pinheiro e seus capatazes faziam de tudo e a cada instante chegavam mais recados de JK para saber do andamento das obras. E cobrando mais. Cada vez mais. Além de emérito tocador de obras, Juscelino era um implacável cobrador.

O convite feito a Eisenhower para conhecer a futura capital brasileira tornara-se de fundamental importância. A oposição a JK se apoiava na ideia de que, se Ike cancelasse sua visita a Brasília, iniciando a vinda ao Brasil pelo Rio ou São Paulo, Juscelino perderia a parada e a inauguração de Brasília estaria fatalmente sepultada. Do lado dos assessores do presidente americano também havia um sentimento de que Brasília não teria as mínimas condições de receber o supremo mandatário daquele país. Assessores da Casa Branca eram frontalmente contra a idéia de expor Esenhower à insegurança de Brasília.

Sentindo que o dia da visita se aproximava e a tendência era a de que Eisenhower firmasse sua vinda ao Brasil para visitar apenas Rio e São Paulo, Juscelino, que já havia sofrido um infarto em razão da alta pressão em que vivia, deu o golpe fatal. Segundo assessores próximos, ele teria afirmado, categórico:

”Ou o general Eisenhower vem a Brasília, ou não será benvindo ao Brasil”.

A astúcia e a coragem de JK mais uma vez se fizeram valer. O clima era de tensão. Poucos dias antes da data marcada para a visita do governante americano, aterrissaram no aeroporto de Brasília, dos mais modestos do país e que eu classificaria como campo de aviação, por ter apenas uma pista longa, com asfalto recente, os primeiros Boeings da série 707, da US Air Force.

Traziam o automóvel blindado de Eisenhower, o pessoal de segurança e apoio, jornalistas e uma parafernália incrivel. Coisas altamente sofisticadas, incluindo uma estação completa de transmissão e recepção, que foi montado em barracas nos jardins internos do Palácio Alvorada, onde o presidente americano ficaria hospedado. Outro equipamento idêntico foi montado no Brasília Palace, junto ao Alvorada, onde se alojou a grande comitiva presidencial. As duas centrais estavam diretamente ligadas à Casa Branca, as 24 horas do dia.

A sala de imprensa para os jornalistas americanos que acompanhavam Eisenhower foi instalada em uma moderna escola, recém-construida. Era a Escola-Parque, entre as Super Quadras 307/308 Sul. Ao lado, a Igrejinha Nossa Senhora Aparecida. O núcleo de imprensa dispunha de equipamento o mais completo e moderno possivel, com telex, telefone e radio-foto. Enfim, correu tudo bem, deixando Raul de Vicenzi aliviado.

A estada de Eisenhower em Brasília teve a duração de dois dias, quando os olhos do mundo estiveram voltados para a futura capital brasileira, tendo ele lançado a pedra fundamental da Embaixada dos Estados Unidos da América..

JK ganhara mais uma batalha e, desde o instante em que o Air Force One decolou rumo ao Rio de Janeiro, o ritmo de Brasília foi retomado, agora com maior ímpeto. A visita dera aos candangos mais energia e disposição para entregar pronta a capital em mil dias. Trabalhavam muito, mas eram felizes.

PV

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