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Viagra feminino provoca polêmica antes de ser lançado

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No início deste mês, um painel consultivo do órgão que regula os medicamentos nos Estados Unidos, o Food and Drug Administration (FDA), aprovou o apoio a uma droga que ajudaria a aumentar a libido em mulheres que não têm desejo sexual, a flibanserin, que será comercializada sob o nome Addyi.

A liberação definitiva está prevista para agosto, mas, antes mesmo dela sair, o medicamento conhecido como “Viagra feminino” já causa polêmica, devido a efeitos colaterais e por não levar em conta todos os fatores emocionais envolvidos no desejo sexual feminino, de acordo com médicos e terapeutas. As curiosidades sobre o produto foram apontadas pelo Daily Mail.

Ao longo dos anos, foram muitas tentativas sem sucesso para criar o tal Viagra feminino. A impotência masculina geralmente é causada por problemas de falta de fluxo sanguíneo para os órgãos genitais e o Viagra funciona melhorando esse fluxo. Em 2004, a Pfizer testou o Viagra em mulheres, mas, apesar de aumentar o fluxo sanguíneo nelas, não melhorou a excitação e nem fez com que praticassem sexo com mais regularidade.

Outra abordagem envolveu dar às mulheres o hormônio masculino testosterona para aumentar o desejo. Enquanto em alguns casos os produtos ajudaram, também podem ter efeitos colaterais infelizes, como pelos do corpo e outras características masculinas, sendo que há quem teme que possam estar relacionados à formação de coágulos sanguíneos.

Um adesivo de testosterona chamado Intrinsa estava disponível no Reino Unido a partir de 2007, mas em 2012 o fabricante cancelou sua licença, alegando razões comerciais. Em 2011, uma pomada de testosterona, a LibiGel, mostrou-se não ser mais eficaz do que um placebo e, por isso, não conseguiu uma licença.

A nova droga, a Addyi, é controversa e traria efeitos secundários, como sonolência, quedas súbitas da pressão arterial e desmaio, especialmente em combinação com álcool. Em ensaios clínicos, esses incômodos foram suficientes para fazer um em cada seis mulheres parar de tomar a medicação.

Ela não age diretamente sobre os órgãos genitais, e sim no cérebro feminino, alterando a forma como respondem à serotonina e à dopamina. A teoria é que isso pode fazer com que o cérebro experimente mais prazer durante o sexo e que os níveis elevados desses produtos químicos também reforcem memórias agradáveis dos encontros, tornando as mulheres mais propensas a querer repetir a experiência.

Alguns especialistas dizem que o Addyi é apenas um “antidepressivo que falhou”. É que ele foi originalmente desenvolvido como um medicamento antidepressivo, mas falhou em ensaios clínicos, e o então a empresa farmacêutica proprietária da droga, Boehringer Ingelheim, o reinventou como um potencial tratamento para a baixa libido nas mulheres.

Em 2010, a FDA rejeitou por unanimidade o pedido da Boehringer para aprovação como um medicamento de aumento de desejo sexual porque estava preocupado com os efeitos colaterais. Foi rejeitado pelo mesmo motivo em 2013, quando os seus direitos já estavam com a Sprout Pharmaceuticals.

Neste mês, a persistência de Sprout finalmente valeu a pena, quando novos dados de segurança apresentados à FDA indicaram que os efeitos colaterais não podem causar danos permanentes às mulheres. No entanto, para manter o efeito, as pacientes devem tomar o medicamento todos os dias, querendo ou não fazer sexo.

Os resultados também não são empolgantes. Nos testes do “Viagra feminino”, os casais que tinham sexo entre duas e três vezes por mês aumentaram, em média, apenas um encontro sexual no período mês quando a mulher o tomou todos os dias.

“Homologação de Addyi pode resultar em excesso de prescrição generalizada de uma droga com benefícios marginais e preocupações de segurança reais”, disse Ray Moynihan, pesquisador da Universidade de Bond, na Austrália. Segundo ele, o desejo sexual feminino depende de seu estado emocional e da qualidade de seu relacionamento.

Outras companhias farmacêuticas também estão tentando desenvolver drogas que melhorem a resposta sexual das mulheres ao trabalhar o cérebro delas. A Palatin Technologies lançou um teste humano de bremelanotide, um hormônio sintético que age sobre o hipotálamo, uma área do cérebro associada à memória e emoção.

A droga ativaria um receptor que faria com que a mulher fosse sexualmente ativada por estímulos externos, como a voz de seu parceiro. Tais tentativas, no entanto, ignoram o fato de que os impulsos sexuais femininos são frequentemente determinados por suas vidas emocionais, de acordo com Janice Hiller, psicólogo e consultora do Centro para Relacionamento de Casais de Tavistock Square, em Londres, Inglaterra.

“As mulheres são diferentes dos homens. A ligação entre o cérebro e os órgãos genitais é diferente”, argumentou Janice. “O problema do declínio dos impulsos sexuais para a maioria das mulheres é, invariavelmente, sobre a qualidade de seus relacionamentos. Pesquisas mostraram que, se as mulheres se sentem desprezadas, ignoradas ou submetidas à hostilidade, haverá reduzção ou eliminação de qualquer interesse sexual que têm pelo parceiro”, completou.

Segundo Janice, a Sprout Farmacêutica, em busca da aprovação de Addyi, realizou uma pesquisa em um pequeno grupo de mulheres que se enquadram nos critérios específicos para um diagnóstico chamado de distúrbio do desejo sexual hipoativo. “As mulheres nos testes não deviam ter quaisquer fatores emocionais, como estar em um estado de ansiedade. Isso faz delas um grupo muito restrito de mulheres do que os clientes habituais que apresentam problemas de baixa libido na Grã-Bretanha”, explicou.

Janice explica que ajudar as mulheres a entender o motivo de seus impulsos sexuais serem baixos é a chave para resolver o problema. “Às vezes, mulheres apresentam um monte de insatisfação no relacionamento e, em seguida, dizem que não sabem porque elas não querem mais fazer sexo. Mas, realmente, elas explicaram o motivo, sem perceber”, completou.

Ammanda Major, conselheira e terapeuta sexual, concorda com Janice e acrescenta que o estresse de manter uma família e cuidar de pais idosos também podem reduzir o desejo sexual de uma mulher. “As mulheres simplesmente não funcionam da mesma forma que os homens, que, se todos os botões certos são pressionados, em seguida, irão trabalhar”, disse.

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