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Zona de guerra, avião, míssil e 300 pessoas mortas no voo MH17

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Em julho de 2014, um Boeing-777 da Malaysia Airlines com quase 300 pessoas a bordo explodiu nos céus do leste da Ucrânia, uma zona de guerra. Dois meses depois, em um relatório preliminar, foi revelado que o avião fora derrubado por “um grande número de objetos” que atravessaram a fuselagem. Mas as principais suspeitas, até hoje não confirmadas oficialmente, eram de que a aeronave tinha sido derrubado por um míssil.

Essa versão parece ser confirmada pelas investigações de um jornalista holandês que teve acesso à área em que o avião caiu. Leia o relato de Jeroen Akkermans à BBC:

“Quando um jornalista começa a investigar a cena de um crime é porque alguma coisa não vai bem – afinal, trata-se de uma tarefa da polícia. Mas, no dia 17 de julho de 2014, o voo da Malaysia Airlines MH17 explodiu no céu do leste da Ucrânia, e os restos mortais dos 298 passageiros e da tripulação caíram em uma zona de guerra controlada por combatentes de frentes militares – uma área sem polícia.

Eu visitei o lugar várias vezes e, depois de meses vendo as provas espalhadas na “cena do crime”, decidi levar alguns fragmentos. Pelo menos três deles estavam ligados a um míssil terra-ar, segundo especialistas e analistas forenses.

Homens e armas
As vítimas vinham de vários países – 196 eram holandeses, por isso o acidente causou grande comoção em meu país. Quando os carros fúnebres com caixões começaram a fazer cortejos pelas ruas do país, de tantas lágrimas, parecia que todo mundo conhecia algum passageiro do MH17.

Os restos mortais desses passageiros estavam espalhados por uma área de mais de 35 quilômetros quadrados e, quando cheguei pela primeira vez, as facções já haviam se colocado a postos para localizar os restos de corpos.

Não havia nenhum tipo de organização, somente homens com armas de fogo. Mas ninguém nos impediu de entrar e gravar o que se chamou de “a maior cena de crime do mundo”.

Havia restos mortais por todas as partes, o cenário era desolador. Uma cena de guerra. De morte. Um inferno. Tirei fotos dos números de série, dos buracos e crateras, em uma tentativa de entender a magnitude de tudo aquilo.

Ninguém parecia estar muito interessado em investigar o que havia acontecido; os restos da explosão ficaram mais de dois meses sem proteção no local onde caíram Os separatistas apoiados pela Rússia estavam lutando com o Exército ucraniano pelo controle da zona do MH17. Na verdade, a entrada para a área foi obstruída por barreiras que eram guardadas por rebeldes armados.

Os investigadores holandeses chegaram quatro dias mais tarde. No momento da chegada deles, bombeiros ucranianos já haviam recolhido a maioria dos cadáveres e dos restos mortais que estavam ali e haviam colocado tudo em sacos plásticos, esperando um trem com vagões refrigerados para transportá-los.

Causas
Mas a demora em apontar as causas do acidente causou grande frustração. Em setembro de 2014, um relatório preliminar indicou que o MH17 foi derrubado por “um grande número de objetos” que atravessaram o avião em grande velocidade. Não havia evidências de erros técnicos ou humanos.

Só que, três meses depois do acidente, ninguém havia recolhido destroços. Não havia investigadores. Muito menos supervisão policial. No início de novembro, na minha terceira visita à região onde o MH17 caiu, tomei a decisão de procurar fragmentos que não poderiam pertencer a um Boeing ou à carga. Eu peguei 20 peças pequenas e suspeitas por ali.

Minha principal suspeita foi um fragmento que parecia ser de restos de munição: oxidado, de metal pesado e com bordas afiadas. Reconheci esse tipo de munição de outras regiões bélicas.

Alguns dias depois que havia deixado a área, os investigadores holandeses finalmente começaram a transportar as primeiras partes dos destroços de volta aos Países Baixos.

Apoio forense
Tirar os fragmentos do país foi um problema. Conseguir analisá-los, foi outro. Havia duas possíveis explicações para a explosão do avião em pleno ar. Ele pode ter sido derrubado por outro avião ou por um míssil terra-ar. Eu mostrei os fragmentos a vários especialistas de diferentes países. Todos descartaram a munição ar-ar.

Ao menos três peçasque foram recolhidas no local teriam as marcas de um míssil superfície-ar. Eles estavam convencidos de que ao menos três das peças que eu havia retirado do local tinham as marcas de um míssil terra-ar. Disparado de um lança-mísseis BUK russo, talvez?

A análise forense de uma das peças revelou, nela, um inscrito em letra cirílica (usada na grafia de línguas como o bielorrusso, búlgaro, macedônio, russo, sérvio e ucraniano). A análise desse fragmento – meu principal suspeito – revelou que era feito do tipo de metal usado na fabricação de mísseis, com os típicos danos de um fragmento metálico que atravessou outro objeto de metal em alta velocidade.

Peritos forenses britânicos do IHS Jane identificaram o fragmento como parte de uma ogiva 9N314, arma disparada por pelo menos um tipo de sistema de mísseis russo BUK. O especialista em mísseis da Alemanha Robert Schmuker repassou todos os dados.

“Os dados, a velocidade, a altura e os fragmentos formam uma soma que leva a um míssil BUK, para mim é matemática pura”, ele me disse.

A análise vinculou os danos a uma ogiva 9N314, que pertence ao sistema de mísseis BUK, de origem russa Depois de quatro meses de investigação, pela primeira vez éramos capazes de apresentar ao público evidências físicas de um BUK. Mas é necessário dar passos maiores para descobrir a verdade do caso MH17.

Quem é responsável? O caso irá para a Justiça? Sinceramente, eu não seria muito otimista sobre isso.

Direitos
Mas será que eu teria o direito de fazer o que fiz? A divulgação do meu trabalho gerou um debate público na Holanda sobre se um jornalista pode pegar provas da cena de um crime. Alguns disseram que sou “um ladrão” rompendo as barreiras da lei. Eu vejo isso, no entanto, como uma obrigação jornalística.

A busca da verdade é o meu trabalho. Muitos concordam comigo. Um apoio inesperado chegou do vice-primeiro-ministro holandês, Lodewijk Asscher, que disse em uma coletiva de imprensa: “A RTL Notícias e Jeroen Akkermans são livres para fazer sua própria investigação.”

Eu entreguei os fragmentos às autoridades holandesas. E eles farão parte da investigação oficial.

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