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Caneta vira bala perdida para matar a Chapada dos Veadeiros

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Se o húngaro-argentino Lásló Biró vivesse para ver o destino de sua criação no Brasil, provavelmente teria morrido de arrependimento. Mas como ele vendeu sua invenção ao americano Eversharp-Faber e ao francês Marcel Bich, nos anos 40, então a herança maldita recai sobre estes. É que a caneta dos tempos modernos, também consagrada na Segunda Guerra, assinada hoje pelas gigantes Faber & Castel e Bic, sempre foi uma arma nas mãos de dirigentes brasileiros.

No Brasil as canetadas dão tiros que acabam atingindo inocentes. Tipo balas perdidas, no jargão policial. Os órgãos públicos são o paiol e abundam nos gabinetes da Esplanada dos Ministérios muita munição para os atiradores. A qualquer momento a arma esferográfica – mais leve do que aquelas utilizadas na companhia de José Dirceu – deverá ser disparada pela presidente Dilma para unilateralmente ampliar a área do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros.

Com uma única canetada ela poderá fazer sucumbir um exército de destemidos que há décadas preservam áreas no entorno do parque, com seus próprios recursos e esforços, e são responsáveis por grande parte do que lá está intacto. A conversinha de gabinete é a mesma de sempre: “Precisamos ser midiáticos e gerar uma agenda positiva do Brasil no Exterior” – afirma um assessor do ICM Bio, que vem a ser o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, nome pomposo que quer dizer qualquer coisa, porque a biodiversidade está em todo lado.

Entretanto, conceitos à parte, naquele órgão com cara de mau subordinado ao Ministério do Meio Ambiente, existe uma diretoria gorda comandada por um EPC (ecochato profissional), de nome Sérgio Brant Rocha, que faz da sua especialidade a sua sobrevivência, em detrimento do trabalho dos autênticos EPVs, heróis ecochatos voluntários, que preservam a biodiversidade por vocação.

O parque da Chapada tem 236 mil hectares, uma área inimaginável em muitos países. Só nações com dimensões continentais constam em pequeno número com áreas consideradas Patrimônio Mundial Natural. No Oeste da Austrália, por exemplo, o Pornuluku National Park tem a mesma da dimensão da Chapada e preserva esculturas formadas nas rochas.

O mais comum é ver noticiado pela Unesco, responsável por uma espécie de selo de Patrimônio Natural, com grande alarde, a ampliação de áreas exíguas de 29 mil ha, ao anexar mais 4 mil ha de bosques, como aconteceu nos Cárpatos na Eslováquia e Ucrânia. No Brasil muitas residências têm essa dimensão. No Japão, outro Patrimônio Natural, o de Shirakami-Sanchi, tem inexpressivos 17 mil ha, mas importantes para cerca de 90 espécies de pássaros que voam por lá. Esses comparativos são só para denunciar o principal fundamento de Brant e sua trupe de que a ampliação do parque da Chapada é uma exigência da Unesco, que em troca vai manter o tal selo emitido por ela, mas que ninguém sabe para o que serve.

Acontece que a preservação que existe e que querem abocanhar gratuitamente – uma área maior do que a de muitos países – está lá há anos e não custou um centavo ao Palácio do Planalto. Foi mantida por corajosos ECVs que defendem a fauna e a flora como parte de suas famílias. E não correm atrás de currículo ou de gratificações públicas. Agora eles estão na mira da caneta e temem pelos 600 mil ha que Sérgio Brant não tem como manter e fiscalizar depois do tiroteio.

Onde ele estava quando Rollemberg destruiu a orla do Lago Paranoá que já gerou três mortes humanas em um único fim de semana e o desaparecimento da fauna que habitava suas margens? Aliás, a destruição veio também de uma canetada. A WWF-Brasil foi mais útil quando, no Paraná, reuniu os proprietários de áreas preservadas e contribuiu para a criação de 8 RPPNs – Reservas Particulares do Patrimônio Natural. A RPPN é uma solução que atende às necessidades de conservação da biodiversidade, quando o cidadão ocupante oferece sua área, já preservada, para que ela se perpetue intocada. E sem custo nenhum aos cofres públicos.

Ao contrário do que a arma do ICM Bio pretende, o Ministério Público de Goiás deveria investigar o assanho dos ECPs também públicos, que querem desapropriar uma área gigantesca, já preservada por heróis anônimos, geração após geração, e não midiáticos, e que desejam apenas ver a continuidade daquilo que fazem há décadas: manter intacto um santuário ecológico chamado Chapada dos Veadeiros.

Afinal, onde há caneta, não há vida. Que o diga a chefa Dilma Rousseff que poderá ser vítima da mesma arma. Vamos continuar de olho e investigar se o ICM Bio já visitou algumas áreas no Pará onde abunda uma única espécie: a do boi gordo. Vamos chegar lá!

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