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Autoestima e o Face

Curtidas aqui e ali não devem mover o sentido da vida

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Cássia Marina Moreira

Que fenômeno foi este que aconteceu com o advento do Facebook que todos precisam se mostrar de “bem com a vida”? Ter a vida familiar daquela “família margarina” que já acorda feliz ou daquela outra da vitamina que todos voltam para casa à noite cheios de garra, cheios de luz, “vitaminados”. Talvez seja isso mesmo: a mídia traça um perfil e uma meta de “vida feliz” que confunde e às vezes acaba por destruir a realidade no dia a dia ou verdade esmagadora da vida. Será mesmo que todo mundo acorda de bem com a vida todo dia? De bom humor, feliz? Penso que nem sempre todos acordam assim…

Daí a necessidade criada de, a cada passo, um “post” desde o pão com manteiga e cafezinho na padaria da esquina logo cedo até a sopa da noite, tudo é postado — onde foi, com quem foi, onde andou e com quem; se fez as unhas, posta lá; fez a barba, posta lá… Pedalou, caminhou, todo mundo tem que saber de todo mundo e claro que tudo foi maravilhoso. Cada curtida conta para que a autoestima suba um degrau; caso não aconteça, ela pode desabar. Se atrelamos a autoestima ao Facebook, não tem como não ficar vulnerável ao sobe e desce das curtidas alheias.

A expectativa sempre foi, senão a maior, uma das maiores inimigas da autoestima! Fazemos certas coisitas para nos alegrar e porque gostamos das coisas que fazemos ou simplesmente porque queremos que os outros saibam que estamos fazendo estas coisas?

Ficamos de bem com a vida por estarmos em algum lugar apreciando algo que nos faz bem ou porque alguém nos verá naquele lugar tomando um big sorvete? Postamos um lugar porque o sentimos como aprazível e acolhedor para nós e por isso indicamos para os demais ou apenas para que saibam que I WAS HERE!

Ouvi sobre uma pesquisa com adolescentes que estão “montando sua persona” através dos cliques de curtidas e “emojis” do ZapZap e do Facebook. Diz a garota: “Posto alguma coisa sobre a minha pessoa; se as curtidas são boas, eu assumo como minha e passo a usar aquela roupa e a frequentar aquele barzinho, por exemplo. Se vejo que ninguém curtiu aquele lugar que postei, já risco a possibilidade de ir onde eu gostaria de ir porque ninguém curtiu”. Assim, ela diz se sentir segura e aceita por um grupo que imagina ser seu e assume uma identidade que também imagina ser sua! Não sei ao certo se isso é bom ou não e não quero tecer julgamento algum a ela ou a outros adolescentes. São os novos tempos! Talvez sejam as novas regras.

Na adolescência da minha época, nos reuníamos para também de certa forma buscar aprovação do grupo e nos sentirmos aceitas. Só eram encontros mais pessoais e não virtuais. Então, muito se fala e pouco se pensa a respeito das coisas virtuais hoje em dia. Penso que é preciso ter mais cautela e um pouquinho de sensibilidade sobre este assunto. Muitas pessoas podem estar voltando ao convívio social e familiar justamente através do Facebook, Instagram, G+ e outros da mesma linha, o que é maravilhoso. Muitas pessoas voltaram a se encontrar depois de décadas por conta destes mesmos instrumentos, o que é fantástico!

Coisas ruins sempre existiram e sempre existirão em toda e qualquer sociedade. São senhorinhas que antigamente vigiavam atrás da cortina, só para saber se a mocinha namoradeira havia trocado o namorado ou se o mesmo namorado havia trocado de carro — já que a buzina era outra. Hoje, elas sabem disso através dos “posts da internet” que muitas vezes é a própria pessoa que coloca, porque ela quer que todos saibam.

Os instrumentos mudaram o ser humano — nem tanto, continuamos seres sociais e fazemos parte desta massa. Se você não posta, outro posta por você e, mais cedo ou mais tarde, pode acabar aderindo. Certa vez, no lançamento de um livro, postei uma foto do grupo que compareceu à Livraria da Vila em São Paulo e uma das pessoas ligou para o webdesigner para que tirasse a foto em que ela estava do site. Pois bem, passados alguns anos, lá está ela com sua própria página no Facebook. Hipocrisia, não — isso ? humanidade! Penso que o Facebook não seja o melhor palco para debates!

O cuidado é para não virar dependente deste instrumento para assegurar a autoestima. Isso pode causar problemas entre amigos como já aconteceu várias vezes… Amigas deixaram de curtir alguma coisa e, com isso, amizades se foram. Importante saber que nem tudo são flores na vida de ninguém e, ao postar maravilhas ou desgostos, sempre se correrá o risco dos desafetos de sempre aparecerem, com críticas pesadas. Nunca ninguém esteve impune a eles, então, cuide-se em outro lugar, com pessoas que realmente estejam capacitadas para este fim e não exponha sua autoestima aos humores do dia na sua página do Facebook.

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