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Abaixo a homofobia

Mães criam movimento para combater ideia da cura gay

Publicado

Autor/Imagem:
Pedro Nascimento

Há seis anos o deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ) afirmou que preferiria ter um filho morto a descobrir que era homossexual. “Seria incapaz de amar um filho homossexual. Não vou dar uma de hipócrita aqui: prefiro que um filho meu morra num acidente do que aparecer com um bigodudo por aí. Para mim ele vai ter morrido mesmo”, disse ele, na ocasião.

Hoje o presidenciável silencia sobre o assunto no âmbito familiar. Tanto que, procurado por Notibras, evitou falar sobre o assunto. Mas nem por isso deixou de discursar temas homofóbicos, mantendo o mesmo radicalismo contra os gays.

A velha frase de Bolsonaro ainda ecoa pelo Brasil. E serviu de senha para que mães de todo o País se unissem para lançar o movimento Mães pela Igualdade.

O grupo é formado por mães de filhos LGBT’s que levantam suas vozes e exigem o fim da discriminação e da violência contra esse público. Com a adesão de muitas mães, o movimento passou a contar também com a participação dos pais. Só no Facebook, são mais de quatro mil membros.

Violência gratuita – A ativista política Eleonora Pereira (52), representante do movimento Mães pela Igualdade, perdeu seu filho José Ricardo (24) para a violência homofóbica. O jovem foi levado da porta de casa de onde morava, no bairro de Jardim de São Paulo, na zona oeste do Recife, e nunca mais voltou.

Em entrevista a Notibras, Eleonora conta que passou dois dias procurando pelo filho, até encontrá-lo em coma após ser espancado.

– O meu filho foi violentado da pior forma que um ser humano pode ser. Sem direito a defesa. Espancado, teve traumatismo craniano, aprofundamento de crânio. Quando eu o encontrei, ele estava em coma induzido. Não pude abraçar meu filho naquele momento. Passei dois dias procurando por ele. Tinha momentos que eu dizia: quando eu encontrar José Ricardo vou dar umas palmadas. Mas meu coração dizia: Que vontade de abraçar meu filho. Mas infelizmente não dei esse abraço, porque ele estava todo entubado” Conta Eleonora.

Para o antropólogo e fundador do Grupo Gay da Bahia, Luiz Mott, esse tipo de violência já está enraizada no país. “O Brasil é um país contraditório. Ao mesmo tempo que tem a maior parada gay do mundo, a maior associação LGBT da América Latina e já tem gays e travestis aparecendo na televisão, continua sendo o país campeão mundial de assassinatos de LGBTs. Metade dos crimes contra esse público do mundo são no Brasil”, diz.

Como o caso de Alex Medeiros, 8 anos, que foi assassinado pelo o próprio pai em uma das constantes sessões de espancamento que o garoto sofria. O menino gostava de lavar a louça e de dançar. O pai do garoto, Alex André, 35 anos, não aceitava as “características” do filho e o espancou para que aprendesse a se ‘comportar como homem’. A criança morreu de hemorragia interna.

No enterro de Alex, estiveram presentes a mãe e o conselheiro tutelar que acompanhou o caso. Mas a cena do menino no caixão branco, com blusa listrada e com as marcas da violência foi tão forte que levou pessoas de outros velórios, que ocorriam no mesmo momento, a prestar solidariedade à mãe.

Lei – A tentativa do pai em “curar” o filho não está tão distante da realidade. O projeto de lei 4931/2016 apresentado pelo o deputado Ezequiel Teixeira(PTN-RJ) busca permitir tal tipo de “tratamento” por parte de psicólogos sem que esses sejam punidos.

Esse não é o único caminho para a “cura gay” avançar no Brasil. A recente decisão liminar do juiz federal Waldemar Cláudio de Carvalho também permite aos psicólogos oferecerem tratamento contra a homossexualidade.

O psicólogo de gênero Felipe de Baére, 32 anos, acredita que falar em “cura” é uma ameaça à vida dos homossexuais e propõe outros tipos de medida. “Um dos grandes auxílios que a gente pode prestar a pessoas que se encontram em sofrimento devido a questão de preconceito e discriminação, é um fortalecimento narcísico dessa pessoa”, afirmou.

Em seguida, o terapeuta acrescentou: “Temos que primeiramente mostrar para ela que a violência sofrida dentro ou fora de casa, não é culpa da pessoa, e sim um problema social que precisa ser combatido, pois essa pessoa não tem culpa de ter uma orientação sexual que não esteja em conformidade com a “padrão” que é a heterossexualidade”.

Para o psicólogo, falar sobre a violência é fundamental. “É uma forma de, primeiro, desmistificar esse imaginário social de que somos um País, tolerante com a expressão da sexualidade e das identidades de gênero que não sejam Cis. Não somos um país aberto”, disse Baére, informando que a educação é o maior vetor de transformação.

Amor incondicional – O Movimento Mães Pela Igualdade segue cada vez mais forte. Eleonora mantém sua luta e militância sem José Ricardo. O primeiro instituto de proteção aos homossexuais de Pernambuco leva o nome de seu filho. Após um ano e três meses de investigação, com ela pressionando a polícia e a justiça, os dois assassinos de seu filho foram presos, acusados de intolerância sexual e condenados a 18 anos de prisão pelo crime de homicídio.

Para ela, o fato da justiça finalmente ter sido feita, não muda a realidade: ela não terá o filho de volta. “Da mesma forma que eu preparei as roupas do nascimento, o berço e o quarto, tudo para a chegada do meu filho, eu tive que preparar o caixão, preparar as flores, de escolher uma roupa para vestir para não ser enterrado nu. De avisar as famílias e os amigos, de comunicar a todos”, lembra a mãe de José Ricardo.

“Eu digo para todas as mães que amem seus filhos, pois esses filhos foram gerados. Esperamos por nove meses com todo o amor de espera e com todas as dores do parto. Não esqueçam seus filhos. Quando seu filho dizer que é gay, lésbica ou trans, simplesmente abrace e beije. Ame seu filho”, finaliza Eleonora.

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