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Mocidade de Padre Miguel cria viagem de Dom Quixote ao Brasil

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Quinta e penúltima escola do Carnaval 2016 do Rio de Janeiro a entrar na Sapucaí, já na madrugada desta segunda-feira (8), a Mocidade Independente de Padre Miguel se inspirou nos 400 anos de Miguel de Cervantes para apresentar uma fictícia viagem de Dom Quixote de La Mancha ao Brasil. No enredo, fascinado pela literatura brasileira, o herói chega ao país e se depara com uma realidade: corrupção, desigualdade social e déficit educacional. Sua luta passa a ser para remover todas as “manchas” da nação.

Com cinco títulos no cartel, mas desde 2003 fora do Desfile das Campeãs e há 20 anos sem o campeonato, a Mocidade busca recuperar o protagonismo no Carnaval carioca. Para isso, efetivou Alexandre Louzada e Edson Pereira como carnavalescos e apostou em um desfile gigantesco e suntuoso. “Apesar de tudo, nossa mensagem é otimista. A Mocidade traz a educação como a solução para termos um Brasil melhor”, explicou Louzada.

Na comissão de frente, o próprio Quixote e seu fiel escudeiro Sancho Pança protegiam camponeses de “corruptos invisíveis”. A referência à política também apareceu no moinho, que se transformava em plataforma de petróleo, na qual o herói hasteava uma bandeira do Brasil. “Dom Quixote chega ao Brasil para lutar contra a corrupção e as nossas mazelas históricas”, explicou Jorge Teixeira, coreógrafo da comissão de frente. “Quando o moinho vira torre, não é a Petrobras, mas toda essa questão política que todo mundo esquece no Carnaval”.

O abre-alas de 18 metros, um dos maiores do Carnaval 2016, contrastou uma gigantesca escultura do herói, toda articulada, em meio a um Brasil idílico, com torres de petróleo na traseira, representando os escândalos de corrupção. Na dispersão, devido a suas dimensões, o carro passou com dificuldade pelo portão, atrapalhando a chegada das outras alegorias e das alas e causando momentos de tensão.

No segundo setor, o herói, que pensava encontrar um país tropical e exuberante, depara-se com a corrupção, representada por uma alegoria com um grande queijo suíço, repleto de ratos com seus rabos presos em ratoeiras. No terceiro carro, a Academia Brasileira de Letras ganha espaço, com seus integrantes vestidos com o tradicional fardão. A instituição é onde Quixote vai para ler clássicos da literatura e tentar entender o Brasil. Ele lê também Gilberto Freyre e Gonçalves Dias, e é apresentado à triste realidade dos tempos coloniais.

Na sequência, o personagem se depara com a escravidão, lembrada nas fantasias de Zumbi dos Palmares da bateria e de “Raízes da Escravidão” da rainha Cláudia Leitte. Um caprichado quarto carro trouxe um navio negreiro feito de latinhas de alumínio, ladeado de dragões.

Momentos da história marcados por conflitos, como a Guerra dos Farrapos (por meio da obra de Érico Veríssimo) e Canudos (Euclides da Cunha), também foram lembrados. As agruras da vida no sertão motivadas pela indústria da seca apareceram no quinto carro, cuja traseira ostentava um enorme gavião carcará.

A viagem de Quixote chega à ditadura, representada na fantasia da cantora Anitta, à frente de um carro alegórico transformado em tanque de guerra. A letra do samba também fez referência ao período com as expressões “tenebrosas transações”, retirada do samba “Vai Passar”, de Chico Buarque, e “caminhando e cantando”, de “Pra Não Dizer que Não Falei das Flores”, de Geraldo Vandré.

Para encerrar o desfile em um tom otimista, a escola transformou o último carro em “lava-jato de felicidade”, mas justamente esta alegoria teve problemas e foi necessário retirar peças e destaques e atrasando o final do desfile, que terminou com 1h20, faltando dois minutos para o tempo máximo.

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