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O casório do Zé Cocô, de mestre de capoeira a empresário de importação e exportação

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José Escarlate

Gente boa do tempo de adolescência, o nosso personagem, a quem vamos tratar por Zé Cocô, é hoje um dos mais sólidos empresários brasileiros no ramo de importação e exportação. Na mocidade, era um garoto boêmio como nós, jogava um belo futebol na praia ao lado do Raphael de Almeida Magalhães, do Heleno de Freitas e João Saldanha, no Lá Vai Bola, time do Tião Macalé. O jogo, no campo em frente à Constante Ramos, era contra o Americano, do Neném Prancha. Na platéia, 30% eram moças, namoradas e admiradoras dos rapazes, no calçadão. E o Zé Cocô brilhava, no meio de craques.

Mestre capoeira – O apelido inusitado veio dos momentos em que o rapaz brigava nos bailes, e brigava bem. Fora aluno da Academia do Sinhozinho, , o grande mestre da capoeira e do jiujitsu, lá na praça General Osório. Era Sinhozinho quem preparava os membros do Clube dos Cafajestes, que fez nome no Rio. Nas suas brigas, o Zé sempre dizia para o adversário” “Vocé não tem talento para brigar comigo. Você é um Zé Cocô”. A turma pegou o mote e sapecou-lhe o apelido, que vingou.

Raphael, filho do Dario de Almeida Magalhães, vice-rei do Flamengo e dos Diários Associados, chegou a vice governador da antiga Guanabara. Bom de bola, só não foi jogar no Fluminense porque o pai, flamenguista doente, não deixou. Terminado o jogo, era uma sexta-feira à tarde, o Zé Cocô fez questão de convidar a todos para o seu casamento, naquele sábado, na Igreja de São Paulo Apóstolo, na Barão de Ipanema. “Não deixem de ir” – dizia. “Vocês vão ter uma surpresa”. Como de todos ele era o mais moleque, ninguém levou em conta.

Igreja toda ornamentada e lotada, 18 horas. Com direito a Marcha Nupcial, a noiva entra de braços com o pai. Elegante, de meio fraque, o nosso Zé Cocô está compenetrado no altar, com os pais, que moravam em Londres. Mas há uma atmosfera de suspense, não se sabe a razão. O padre, no sermão, fala em espíritos desarmados e doação do casal para a vida a dois. Após o clássico “até que a morte os separe”, Zé Cocô, como é da tradição, não beijou a noiva, mas virou-se para ela e disse, em alto e bom som: “Você não me ouviu e insistiu em casar. Pronto. Está casada, passe bem”. Virou as costas e deixou rapidamente a igreja.

Fugindo de Londres – Foi o maior rebú. Metade da igreja chorava. A outra metade, ria, surpresa. Os grupinhos se formavam na calçada da igreja, na base do “o que houve?”, “por quê?” Dalí, já no calçadão da praia surgiu a história. Eles eram namorados há algum tempo. A moça lindíssima, e o Zé não ficava atrás.

Apesar de boêmio inveterado, moleque, alegre, estava se formando em arquitetura e já trabalhava com o pai no escritório de representações. Na alegria do namoro e no entusiasmo de jovem, o nosso Zé Cocô fez “bem” à moça. E ela exigiu casamento, queria uma reparação. Ele dizia que ainda não era hora, podiam esperar. Ela não aceitou, sua família também, e o pai da noiva teve que arcar com as despesas do casório, reza a tradição.

Depois da formatura ele foi para Londres e lá ficou, comandando os negócios, com o pai retornando ao Rio. Alguns anos depois deu uma esticada a Paris, para fugir da presença de chuvas durante todo ano. A cidade de Londres é muito úmida, pela proximidade do oceano. A umidade relativa do ar fica acima dos 90%.

Reencontro em Paris – Sentindo-se só, o nosso Zé percorreu a via sacra parisiense. Montparnasse, o Café du Dôme, os subúrbios, o Quartier Latin, o Tuileries e a Praça Vendôme. Era a alegria de Paris cantada por Edith Piaf, que dizia que “o amor é doce”. A Quiche Lorraine, um clássico das refeições francesas, o Coq au Vin, feito à base de carne de frango e vinho, passando depois pelo profiterole, bastante popular na França, apesar de criado por um chef italiano.

Ao deixar a Galeries Lafayette, Zé esbarra em uma moça, morena, lindíssima. Espantado, vê que é a ex-noiva, a mesma que o fez deixar a alegria do Rio. Abraços e beijos carinhosos de saudades não faltaram. Leva-a para jantar, com direito a vinho e, obviamente, cama. O amor recrudesce. Conta a sua históra, sua vida em Londres e ouve o relato da moça.

Durante a sua estada em París, ficam juntos e lembram que estavam legalmente casados. E, por desejo de ambos decidem assumir o casamento, sem as pompas de três anos antes. Mas também sem as decepções. Vivem na Corte de Saint James, volta e meia com escapadas a Paris, Nova York, Roma e Madrí. Felizes como nunca, hoje pais de três moças e com quatro netos.

PV

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