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Ouro de tolo

Pirâmides voltam com crise para enganar muita gente

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Bartô Granja, Edição

A famigerada pirâmide financeira, bastante noticiada de forma camuflada como “marketing multinível” ou “marketing de rede”, é uma operação não sustentável caracterizada pelo estelionato contra o cidadão e pela fraude contra o sistema financeiro em níveis setoriais, e até mesmo globais, com enorme capacidade de expansão e persuasão.

As operações, geralmente muito bem elaboradas com histórias mirabolantes, envolvem o ganho de dinheiro baseado principalmente ou exclusivamente no recrutamento de outras pessoas para o sistema fraudulento, sem quaisquer produtos ou serviços de fato ou de direito, a serem efetivamente entregues ao consumidor.

Um caso recente operado pela justiça e noticiado pela imprensa foi o da empresa de comunicação e tecnologia VOIP (telefonia via internet), a TelexFree.

Esse tipo de esquema ficou mundialmente conhecido na década de 1920 com o ítalo-americano Charles Ponzi, que atraiu milhares de clientes prometendo uma rentabilidade de 50% em apenas 45 dias. Condenado a anos de prisão, Ponzi posteriormente mudou-se para o Brasil, onde morreu pobre em 1949. Sua experiência deu nome ao golpe de pirâmide financeira, também conhecida como Esquema Ponzi.

Um dos maiores casos ocorridos em solo tupiniquim foi o das Fazendas Reunidas Boi Gordo, responsáveis pelo prejuízo a mais de 30 mil investidores, que perderam, juntos, a bagatela de 3,9 bilhões de reais. Seduzidos pela oportunidade de embolsar um lucro mínimo de 42% no prazo de um ano e meio, clientes e “investidores” aplicaram suas economias na Boi Gordo.

Mas se engana quem acha que só pessoas com pouca instrução, ou as excessivamente inocentes, é que são atraídas e se tornam vítimas naturais dos golpes de pirâmide financeira. Bernard Lawrence Madoff amealhou mais de 60 bilhões de dólares com o maior esquema Ponzi da história. Considerado um dos mais bem-sucedidos gerentes de investimentos de Nova York, Madoff administrou os recursos de 16 mil vítimas, entre empresas famosas, corporações sólidas, pessoas ricas e poderosas. Em 2009, Madoff foi condenado a 150 anos de prisão por fraude contra o sistema financeiro, lavagem de dinheiro e perjúrio.

O Estado de Goiás, conhecido como celeiro do Brasil e do mundo, a terra da música sertaneja, do pequi e de um povo hospitaleiro, também poderia facilmente ser intitulada como o berço de grandes golpes de Pirâmide Financeira. Além da Boi Gordo, que teve vasta atuação em Goiás por ser um estado pecuarista, um dos golpes mais famosos foi o da empresa Avestruz Master, fundada em Goiânia.

O grupo oferecia contratos de compra e venda de avestruzes com compromisso de recompra dos animais. Assim, quem investisse em uma ave com 18 meses de vida, ganharia um retorno de 10% sobre a aplicação até o mês em que a avestruz fosse readquirida pela empresa. O lucro seria assegurado pela suposta exportação da carne. O negócio propriamente prometido jamais evoluiu, em sete anos de operação nenhuma ave foi abatida Na teoria, a Avestruz Master teria comercializado mais de 600 mil animais, mas na prática só possuía 38 mil.

Outras empresas goianas, como a Elite Activity, a Realiza, a Speed Dolar e a Fuel Age são exemplos recentes das manchetes policiais por causa de fraudes utilizando o método Ponzi. Em cada uma delas, a polícia agiu e o Ministério Público interveio para evitar que lesassem mais vítimas com suas promessas.

Como as duplas sertanejas, as Pirâmides Financeiras não param de surgir todos os dias no Brasil, sobretudo em Goiás e na região do Entorno do Distrito Federal.

Com uma simples consulta no buscador do Google, qualquer cidadão comum vai se deparar com anúncios de golpes disfarçados de oportunidades. São convites tentadores de grana fácil, com promessas de rentabilidade crescente muito acima da média, seguidas de reuniões físicas ou pela web, em que apresentações motivacionais convencem qualquer um que ganhar dinheiro sem trabalhar é possível e simples, basta acreditar no sistema deles entregando seu rico dinheirinho. Um verdadeiro e imperdível “negócio da China”, apesar da própria China proibir esse tipo de atividade em seu território, impondo penas severas para quem ousa se arriscar com algo semelhante.

Em uma dessas pesquisas pela web, encontramos aquela que pode ser a nova sensação do momento, a Seven Opportunity. A empresa oferece a absurda e inimaginável rentabilidade de 1% ao dia, 365% de rentabilidade ao ano, capaz de fazer os megainvestidores George Soros e Warren Buffett repensarem suas opções sobre suas carteiras de investimentos.

Para se ter uma ideia de como o esquema é elaborado e de como seus donos não estão preocupados com a Hora do Brasil, e nem com a Polícia Federal, a empresa está sediada fisicamente no centro de Goiânia, onde atua lesando a população local, mas já estendeu seus tentáculos por toda a América do Sul e Central.

Os atuais proprietários e diretores da Seven possuem denúncias por participação em outros golpes Ponzi, alguns bem recentes, com histórico de milhares de envolvidos que ficaram a ver navios na hora de receber o retorno prometido. Tudo muito facilmente levantado pela internet, basta uma simples pesquisa.

Nas redes sociais, os respectivos sócios da Seven ostentam uma vida de luxo para atrair mais seguidores. Eles publicam muitas fotos e fazem vídeos de carros importados, relógios caros, viagens internacionais, jato particular, e até uma mina de ouro própria com grandes máquinas de garimpo.

Vale ressaltar que a exploração e o comércio de ouro no território brasileiro, sem os devidos credenciamentos frente aos órgãos legais, é crime ambiental, podendo incorrer ainda em usurpação de bens da União, operação ilegal de instituição financeira, receptação qualificada, bem como associada à venda e às remunerações propagandeadas e não honradas, passíveis de crime contra a ordem econômica, estelionato, formação de quadrilha, sonegação fiscal, lavagem de dinheiro, associação criminosa, propaganda enganosa, entre outros. A lista é grande!

A CVM e o Ministério Público possuem informativos em suas páginas para esclarecer ao cidadão e auxiliar na identificação dos golpes.

Fica a dica, principalmente aos que adoram a música sertaneja brasileira e tudo que brota em Goiás. Entre bois, avestruzes e o novo ouro de tolo, desconfie de ganhos de outro mundo. Não existe mágica!

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