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Proposta mambembe

Rollemberg procura coelho na cartola para o novo Iprev

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José Seabra

O Distrito Federal, por sua forma retangular, vem sendo confundido pela classe política, e em especial pelos ocupantes do Palácio do Buriti, com aquele antigo brinquedo conhecido como “cubo magico”. Essa, para ficar num comentário brando, é a definição jocosa creditada a atentos observadores da realidade local.

Governantes torcem e retorcem o Distrito Federal há anos, como se buscassem uma resposta quase mágica para salvar as finanças da capital da República dos desmandos de cada governo.

No caso de Rodrigo Rollemberg, o esvaziamento do discurso pós-posse, no sentido de que a gestão de Agnelo Queiroz entregou os cofres vazios, já não encontra eco nas ruas.

Foram quase três anos sem que o governador mostrasse capacidade administrativa. Como consequência, ele amarga os piores índices de aprovação de seus antecessores, incluindo os prefeitos/governadores nomeados pelo regime militar.

Na avaliação de formadores de opinião, Rollemberg age como dono de um circo mambembe. Trata-se daquele velho conjunto teatral ambulante, pobre e de má qualidade, formado por atores amadores e que percorre cidades do interior. Mas Brasília – é bom o governador saber disso –, é capital, e não uma cidade provinciana, por mais méritos que estas mereçam.

A reforma da previdência tão almejada pelos técnicos do Buriti esbarra na falta de credibilidade do governador junto aos deputados distritais. Até mesmo sua restrita base se faz vesga quando se debruça sobre o projeto.

No Legislativo a queixa é generalizada. Desde que tomou posse, o governador afastou-se dos distritais. Sua crença estava na sonhada capacidade de promover um governo solo, austero, forçando a Câmara a se submeter ao seu desejo ante uma retumbante administração, que hoje se mostra fracassada.

O modelo a ser copiado era o de José Roberto Arruda, que soube tratar os deputados a ferro e a fogo. Com isso, foi possível criar uma base sólida que lhe permitia agir com desenvoltura, com a certeza de que seus projetos seriam aprovados.

Essa performance decorria de um carisma popular de Arruda, coisa que Rollemberg não possui. Assim, ao tratar a Câmara Legislativa como tratou ao longo desses quase três anos em que acordos foram jogados no lixo, o governador perdeu credibilidade e voto.

Diante desse quadro, estando as eleições a um ano e amargando o governo a maior rejeição da história, Rollemberg dificilmente conseguirá arrancar os votos necessários para aprovação da matéria.

Os problemas ultrapassam Plenário, corredores e gabinetes da Câmara Legislativa e estacionam, entre ouvidos, na Secretaria de Planejamento e na Casa Civil. Nesses braços direito e esquerdo do Buriti, dá-se conta de que o plano de unificação dos Fundos Financeiro e Capitalizado do Iprev é uma bomba relógio que deverá explodir no máximo em cinco anos.

O alerta dos assessores aos cérebros daqueles dois braços do Buriti é o de que em finanças não existe milagre. E o projeto que se pretende agora aprovar apenas adia os problemas do caixa do Regime Próprio de Previdência. Isso porque, uma vez unidos os fundos, sairão do Fundo Capitalizado os recursos para pagar as despesas do Fundo Financeiro. Na melhor das hipóteses é algo insano, uma vez que à medida que os trabalhadores que contribuem para o Fundo Capitalizado começarem a se aposentar, ocorrerá o mesmo efeito do Financeiro, ou seja, a conta não fechará.

A impossibilidade de resolver o problema no médio e longo prazo retira a seriedade da proposta. Dentro dessa ótica, a aprovação do projeto é duvidosa.

Também concorre contra a aprovação da matéria a falta de um discurso sólido de Rodrigo Rollemberg. Os comentários mais ouvidos são os de que, em cantilena, ele ameaça parcelar os salários. Porém, como bem lembram dirigentes sindicais, faz soar, por outro lado, trombetas para apresentar uma Brasília que não existe, na tentativa de alavancar um natimorto projeto de reeleição.

Diferentemente do que se passa em um picadeiro mambembe, Rollemberg precisa mostrar que é um estadista. E admitir que o Distrito Federal não se conserta torcendo e retorcendo contas. A solução é técnica com ingredientes políticos. Para colocar a casa em ordem, é preciso austeridade, honestidade e pela capacidade de gestão, requisitos indispensáveis a qualquer gestor.

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