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Ronaldo entra no jogo da sucessão e declara apoio ao tucano Aécio

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O ex-jogador Ronaldo Luís Nazário de Lima, que encantou milhões de torcedores nos campos de futebol, decidiu percorrer outras plagas e entrar na saga política. Depois da Copa, disse, vai se incorporar à campanha de Aécio Neves (PSDB), à Presidência da República.

As declarações foram feitas em entrevista ao jornal Valor Econômico. Veja trechos da publicação:

Por que você acha que se criou esse ambiente negativo em relação à Copa? O povo era muito a favor quando o Brasil foi escolhido para sede em 2007. O que mudou?
Ronaldo – O brasileiro é muito festeiro. Mas de um tempo para cá, há mais ou menos um ano, o povo achou que a Copa ia resolver todos os nossos problemas. E não vai. As pessoas falam que tudo agora é problema da Copa como se o nosso país, antes de ser escolhido como sede, fosse uma maravilha. Fosse primeiro mundo. A Copa veio como uma grande oportunidade. Todo o investimento que está sendo feito terá um retorno triplicado, com a vinda de turistas, com o consumo. Os turistas virão, vão se apaixonar pelo nosso país, pelas nossas cidades e vão querer voltar sempre. O Brasil ainda tem um potencial muito grande a ser alcançado, nós recebemos poucos turistas por ano. Nós recebemos acho que seis milhões de turistas por ano. Isso é o mesmo que recebe uma cidade grande, acho que Nova Iorque. A Copa vai nos dar essa visibilidade.

Mas essa expectativa não foi criada quando se anunciou a chegada da Copa. Não houve um exagero de expectativa?
Ronaldo: Sim, mas o que a Fifa e a Copa do Mundo têm a ver com isso? Não têm nada a ver. Os culpados são os governos que prometeram e criaram essa expectativa para o povo. É uma oportunidade perdida. A gente tinha tudo para aproveitar esta grande chance e fazer tudo acontecer, entregar todos os investimentos prometidos ao povo e fazer uma grande festa. Foi uma grande oportunidade perdida. Foi feita muita coisa, mas poderia ter sido feita muito mais.

Por que você acha que as obras atrasaram?
Ronaldo: Por quê? Eu não sei. É um planejamento. Posso dizer que em todas as outras Copas do Mundo houve muito atraso. Em 2006, a Alemanha, que é primeiro mundo, não entregou um estádio para a Copa das Confederações e acabou fazendo o torneio com um estádio a menos. Isso não é um problema. Dá-se um jeito. Mas os atrasos que eu acho que são uma grande pena para o nosso povo são os que acontecem em infraestrutura, em aeroportos, em mobilidade urbana. Esse é o legado que deveríamos ter da Copa e teremos pouco, de acordo com o que era previsto antes. É isso que as pessoas precisam entender: isso são os governos. Os governos em que elas mesmas votam. Isso não tem nada a ver com futebol, com a Copa.

A relação com a Fifa, que criticou muito a organização do Brasil, foi difícil?
Ronaldo: Num primeiro momento foi. Imagina, nosso país com todos os problemas, toda a burocracia. A Fifa é uma empresa séria, organizada. Em 2007, quando foi divulgado que o Brasil seria a sede, o presidente Lula assinou tudo, concordou com tudo e o que eles esperavam é que fosse entregue tudo que o Brasil assinou e acordou. Só que chegaram aqui e viram que foi tudo muito difícil, cada dia era uma batalha. Até hoje é.

O secretário geral da Fifa, Jerôme Valcke, chegou a dizer que a organização era um “inferno”…
Ronaldo: E é, no sentido em que ele falou. A gente sabe das dificuldades que temos em nosso país e a Copa do Mundo abrange muita coisa, atinge a sociedade por completo. Itens da Lei Geral da Copa tiveram que ir à votação no Congresso, iam e voltavam até que chegavam na presidenta de novo. Enfim, foi uma novela.

Os gastos com a Copa vão ser de R$ 25 bilhões, sendo uns R$ 14 bilhões com mobilidade e aeroportos, que teríamos que fazer de qualquer jeito. R$ 10 bilhões são em estádios. Você acha isso muito?
Ronaldo: Eu acho que essa pequena parte da população que está fazendo manifestações contra a Copa – não digo os vândalos nem os black blocks que vão quebrar as coisas, esses a gente condena de cara -, mas o povo em geral está confuso. As informações são sempre todas distorcidas, tudo é muito manipulado para que seja uma coisa negativa. A Copa do Mundo é uma vítima que chegou num País completamente desarrumado. É vergonhoso. Um país, em que agora o povo parece estar muito revoltado, pouco paciente, pouco tolerante. Na verdade, a Copa veio para trazer uma série de investimentos ao nosso país. Investimento esse que a gente não sabe se algum dia sairia.

Você acha que a Copa chegou num mau momento. Num momento em que a população está sentindo falta de outras coisas?
Ronaldo: Eu não acho que a Copa chegou num mau momento. Acho que as pessoas ainda vão olhar para trás e vão ver tudo isso como muito positivo. O maior exemplo de todos – e são vários que tenho, visitando estádios, cidades – é Cuiabá que não recebia nenhum tipo de obra de infraestrutura há 40 anos. Agora, a gente chega na cidade e ela está completamente em obras. É uma pena que o planejamento não foi como se pensava para ficar pronto na Copa do Mundo, para que a população já pudesse ser beneficiada. Todas as cidades-sede receberam grandes investimentos de infraestrutura, de mobilidade urbana, estão arrumando os aeroportos. Para tudo que a gente cansa de reclamar está sendo feito algo para melhorar. O Brasil é um país muito rico e não tem que ter essas escolhas ou faz hospital ou faz estádio. Tem dinheiro para tudo. O que a gente tem que condenar é a corrupção, o superfaturamento, os políticos que querem sempre tirar vantagem de alguma coisa.

E os estádios, vão virar elefantes brancos?
Ronaldo: Eles vão virar elefantes brancos se a administração de cada estádio permitir. Os estádios que foram construídos no Brasil ou reformados são multiuso e podem ter uma agenda espetacular nas cidades. A gente tem ajudado algumas administrações a fazer com que os estádios deem lucro e sejam uma atração para a cidade. Em Brasília, por exemplo, em um ano o estádio já recebeu mais de 800 mil visitantes. O Real Madri recebe € 15 milhões por ano só abrindo as portas do estádio, fazendo o torcedor conhecer o vestiário: vai no campo, no camarote, na sala de troféus. O Maracanã já tem esse tour e deve ter uma boa arrecadação. Só vira elefante branco se o administrador do estádio quiser porque ele tem uma máquina poderosa para fazer muitos eventos. Por exemplo, na arena do Corinthians é possível fazer até dez eventos no mesmo dia de tanta coisa que tem. E só saber captar tudo isso e transformar tudo isso em dinheiro.

Você acredita no hexa?
Ronaldo: Acredito muito. Temos um excelente time. A imagem do último torneio que eu tenho do nosso futebol, que é da Copa das Confederações, é muito boa. É muito importante o apoio da torcida para que isso aconteça.

Você não acha que há muita pressão sobre o Neymar? Essa pressão não é parecida com aquela que acontecia com você em 1998, na França, por exemplo? Esperava-se que você resolvesse tudo.
Ronaldo: Às vezes eu resolvia (risos). Não era sempre. A pressão é muito grande para todos que vão estar na Copa, na seleção brasileira. Mas o jogador de futebol consegue se desligar dessa pressão. No meu caso, a pressão externa sempre foi menor que a pressão que eu mesmo me impunha, eu me cobrava muito, sempre fui muito exigente comigo mesmo. Mas hoje em dia, embora a pressão sempre vá ser muito grande, os atletas estão muito protegidos. A seleção tem uma grande oportunidade de ser campeã em nosso país e isso pode ser inesquecível, histórico.

Quais são os quatro países que têm mais chances?
Ronaldo: Nesta ordem: Brasil, Alemanha, Argentina e Espanha. Eu espero muito que o grande jogador da Copa seja o Neymar.

Você acha que Klose (o atacante alemão Miroslav Klose) fará o 15º gol e tirar sua marca de maior artilheiro das Copas?
Ronaldo: Tomara que não (risos). Vou secar ele só um pouquinho. Não vou secar muito por que acho que cada um tem o que merece. Eu fiz minha história e sou muito orgulhoso. Ainda que ele faça, minha história vai continuar ali e o recorde foi feito para alguém tirá-lo algum dia. Não pretendo que o meu fique para o resto da vida.

Você acha que hoje o futebol europeu está num nível superior ao brasileiro?
Ronaldo: Qualidade técnica, não. Acho que eles nunca vão ser. O Brasil sempre será o maior celeiro de craques. O Zagallo falava isso muito: enquanto a gente equiparar a nossa força, a nossa disciplina, a nossa técnica aos europeus, vamos ganhar sempre. Tecnicamente somos melhores que eles.

Mas nossos clubes estão longe de terem a administração que eles têm. O que falta?
Ronaldo: Falta legislação. É muito simples a gente querer mudanças em nosso futebol se a gente não pode responsabilizar os presidentes dos clubes por medidas erradas ou atrapalhadas. Fala-se muito sobre os presidentes terem responsabilidade por seus atos nos clubes, em sua administração. Isso é um passo importante. O futebol brasileiro ainda tem muito que melhorar. Temos no máximo uns dez clubes que têm boa receita e conseguem ter lucro no fim do ano. O resto depende de ajuda, enfim, não sei bem do que eles dependem.

Esse clima que existe em relação à Copa, existe também na classe empresarial. Você que é também um empresário, você corrobora essa opinião. O Brasil está nesse momento ruim? Como é que você se sente como empresário?
Ronaldo: Inseguro. Inseguro como o setor todo. Eu tinha previsão de fazer investimentos no Brasil no ano que vem e não vou fazer. Essa insegurança que estamos vivendo, essa instabilidade, a revolta, o ódio do povo… o governo deveria tranquilizar a população, o setor empresarial. Dizer que está tudo tranquilo, mas não faz isso. A gente vive tapando buraco aqui e ali e o Governo não dá segurança à população.

Em qual setor você pretendia investir?
Ronaldo: Nunca investi muito. Só comprei alguns imóveis que são meus. Sou muito conservador quanto ao dinheiro. Estas eleições, neste ano, vão dar uma clareada no que pretendo fazer.

Você é mesmo conservador? Investe em quê?
Ronaldo: Quando o mercado está oferecendo dez eu estou pegando oito (risos). O mercado oferece oito e eu pego seis. Eu tenho uma equipe de analistas financeiros na Suiça e na Espanha. A gente tem umas duas ou três reuniões por ano para analisar os investimentos.

Se fosse um investidor estrangeiro, investiria no Brasil?
Ronaldo: Ainda há muita oportunidade no Brasil. Amo meu país, sou patriota. Mas tenho receio e o estrangeiro também tem muito receio de investir no Brasil. Principalmente agora que estamos às vésperas de uma eleição.

Você vai votar em Aécio Neves (PSDB-MG)?
Ronaldo: Eu voto no Aécio.

Mas e o Lula que, que ajudou a fazer o estádio do Corinthians?
Ronaldo: Lula não é candidato.

Mas a presidente Dilma é a candidata dele.
Ronaldo: Mas eu sou amigo do Aécio. Conheci a presidente Dilma, tenho uma ótima relação com ela. Mas minha amizade com Aécio tem 15 anos. Ele foi o único cara que eu apoiei publicamente. Apoiei para governador de Minas e aí ele fez um excelente trabalho. Sempre tivemos uma amizade muito forte e agora vou apoiá-lo. É meu amigo, confio nele e acho que é uma ótima opção para mudar o nosso país.

Vocês eram amigos, assim de sair à noite?
Ronaldo: Sempre fomos. De noite e de dia. Não é só de noite (risos), se não pode ficar feio. A gente também ia para a praia juntos…

Como se conheceram?
Ronaldo: Alguns amigos em comum nos apresentaram muito tempo atrás. Ele sempre frequentou muito o Rio. Faz muito tempo.

Qualquer partido em que ele estivesse você votaria nele?
Ronaldo: Sim. Não sou filiado a nenhum partido, não tenho pretensão de entrar para a política. Tenho amigos. Sou muito amigo do [ex-presidente] Fernando Henrique [Cardoso]. O presidente Lula também, que é um cara sensacional e sempre tivemos uma ótima relação. Mas voto declarado, mesmo, só no Aécio.

Você fará campanha para ele?
Ronaldo: Até agora não conversamos sobre isso. Mas alguma coisa [vou fazer], sim. Justamente num momento em que vai acabar a Copa do Mundo e eu precisava de umas férias. Foram dois anos de luta e batalha para esta Copa. Mas vou fazer.

Você não se incomoda de ficar marcado como tucano?
Ronaldo: Eu quero o bem do meu país. Se eu não acreditasse no Aécio como uma ótima opção, mesmo sendo amigo, eu não faria nada. Mas não sou filiado a nenhum partido, sou muito curioso sobre política, leio muito sobre isso. Não tenho medo de ser marcado por nada. Acho que todos nós, cidadãos, temos que ter este papel importante na sociedade, de querermos um país melhor, buscando sempre as convicções que temos.

O que você recomendaria ao próximo presidente da República? Que tipo de medidas você acha que seriam imprescindíveis, logo num primeiro ano do mandato?
Ronaldo: É tudo tão evidente, a insatisfação do povo, está tudo tão na cara que é muito fácil para o próximo presidente resolver a situação. O grande desafio para o próximo presidente é escutar o povo. Mas escutar e fazer o que o povo está pedindo. Acho que o grande foco da política deveria ser a educação. Se nós fôssemos um país mais educado, a nossa saúde seria melhor, nossa segurança seria melhor. Tudo em nosso país parte da educação. Teríamos menos violência, mais tolerância, mais paciência. Eu investiria muito mesmo em educação.

Se Aécio ganhar a eleição você será ministro?
Ronaldo: Da Educação? (risos). Eu não tenho nenhuma pretensão política e nem sei se seria capaz de ter um cargo desses. Eu tenho tantos compromissos com patrocinadores. Deixar minha vida, que é onde ganho dinheiro junto com meus patrocinadores, e viver pisando em ovos, com cartão de gastos corporativo, sem saber o que pode gastar ou não pode gastar, divulgar meu patrimônio. Ia dar uma confusão.

Você já leu algum livro do Paulo Coelho?
Ronaldo: Li vários. Todos. “O Alquimista”, “Verônica Decide Morrer”…

Paulo Coelho chamou você de imbecil. O que achou de ele ter te chamado de imbecil?
Ronaldo: Achei completamente deselegante, uma ofensa gratuita, sem entender o contexto, porque estou envolvido na Copa. Foi desnecessário e muito ofensivo. Não tem muito o que dizer. Eu gosto da obra dele, tivemos contato uma vez em Madri. Ele foi na minha casa, fazer uma foto comigo, estava lançando um livro. Agora, lançando outro livro, agiu de uma forma grosseira.

Você está morando em Londres. Gosta?
Ronaldo: Estou amando Londres. Mas sinto muita falta do Brasil, sinto muita falta dos meus filhos, da minha gente aqui. Londres é uma cidade completa, aliás é muito parecida com São Paulo. O clima é parecido, apesar de que lá é muito mais frio. Já passei 18 anos morando fora do Brasil.

Dá para andar incógnito?
Ronaldo: Eu consigo andar tranquilo. Não tenho segurança nem em Londres nem na Europa em geral. No Brasil, infelizmente, sou obrigado a ter, não porque eu quero. Principalmente meus filhos.

Você e sua família já sofreram ameaça aqui no Brasil?
Ronaldo: Sim, há uns cinco anos minha família recebeu uma ameaça de sequestro. Foi um momento muito difícil, reforçamos a segurança de todo mundo. Meu pai foi para a Espanha, ficou seis meses lá, todo mundo queria sair do país.

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