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Sem Luiz Antônio, a bola de vôlei ficou sozinha na quadra do Clube da Imprensa

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José Escarlate

O Clube da Imprensa de Brasília, nos primórdios da cidade, era uma festa. Nos finais de semana, depois de enfrentar os supermercados, sempre cheios, os coleguinhas iam lá refrescar a cuca, depois das pautas e coberturas, sempre difíceis dos anos de chumbo. Alguns, eram convidados, frequentando as quadras de vôlei e basquete, mergulhando na piscina e lotavam o restaurante e as churrasqueiras, na maior confraternização.

Um dia de 1973, esses momentos alegres e felizes se transformaram em horas de angústia e dor vividos pela turma do vôlei do Clube da Imprensa. Disputava-se um torneio de vôlei de areia promovido pelo antigo Defer, na quadra da 104 Sul.

Na volta ao clube, dois times foram formados com o Flamarion Mossri, Jair Cardoso, o Flávio, a Heloisa, a Rita, Soninha, que era levantadora, o Nízio Tostes, Mario Márcio, do Defer, Jairzinho, Evilásio Carneiro, a Conceição Moreira Salles, o João Ricardo, Nelcí Stein, o Cláudio, médico oftalmologista e o Luiz Antônio, eterno convidado e que era funcionário da Câmara Federal, habituê das quadras.

Eu o conhecia desde os tempos de solteiro, no Rio. Era alegre, feliz e jogava basquete no time do Clube Sírio e Libanês. Na rede estavam o Flamarion, Luiz Antônio e a Soninha. Nesse dia, por estar viajando, a Aurora não foi. Luiz Antônio branco demais, passava óleo protetor do corpo todo, para fugir da queimadura do sol. Com o desenrolar do jogo, de tanto cair na areia fina, costumava dizer que parecia um bife à milanesa.

A partida estava animada. Dado o saque, a bola passa e Luiz Antônio, na tentativa de subir, desaba na areia, atordoado. Todos correm para ajudá-lo. Ele bambeia e é levado para o meio fio que separa as duas quadras. Bebe água, parece estar melhor e insiste em voltar para a quadra. Depois de algum tempo, retorna. Na primeira tentativa, ao tentar cortar uma bola, Luiz Antônio volta a desabar, com sinais de desmaio.

Mario Marcio, Cláudio e outros correm e colocam o Luiz Antônio na camioneta do Defer, a caminho do então Hospital Distrital. Quando chegou lá, a alegria de viver do Luiz Antônio, 33 anos de idade, tinha fim. Estava morto, atingido por um infarto fulminante. O Clube da Imprensa parou. Tinha muitos amigos por lá. Era choro por todo lado.

Ele era casado e tinha dois filhos, que estavam em casa com a mãe. Como o óbito ocorreu cedo, ele foi sepultado no final do mesmo dia. Não teve velório, por decisão da viúva, que entrou em estado de choque e nem foi ao enterro.

Seu sepultamento só foi possível – já estava escurecendo bastante – porque os amigos juntaram seus carros próximos à sepultura, acenderam os faróis dos carros, iluminando a cova mortuária. Na semana seguinte, com todos ainda bastante chocados, ficou faltando um para fechar os dois times.

PV

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