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Traição de Marina faz história em Brasília e provoca até prisão na véspera da renúncia

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Brasília, 24 de agosto de 1961. Naquela manhã a cidade amanheceu em polvorosa. Inflação alta, instabilidade econômica, alto índice de desemprego. Uma crise econômica estava levando o País a uma crise política séria.

Alheio às crises, Alberto era um empresário bem sucedido. Chegou a Brasília ainda na década de 50, como funcionário da Serveng/Civilsan, empresa de construção civil responsável por diversas obras na cidade.

Com espírito empreendedor aguçado, Alberto logo pediu demissão e abriu uma lojinha de material de construção, ferragens, utensílios e qualquer coisa que o cliente precisasse. Não era raro um cliente rico encomendar um fogão moderno para dar de presente à filha que iria casar. Alberto trazia de São Paulo.

Assim, a empresa de Alberto se tornou referência em Brasília, situada na W-3 Sul. Com o tempo o empresário foi investindo suas economias em lotes, casas e caminhões que eram alugados para as grandes empresas de construção que ainda trabalhavam em ritmo frenético na cidade.

Alberto era considerado um homem rico e feliz. Em uma das suas viagens ao seu estado de origem, Rio de Janeiro, ele conheceu Marina, uma bela jovem de classe média carioca e se apaixonaram. O empresário brasiliense casou na tradicional igreja São Francisco na Penitência, que fica no Largo da Carioca. O seu interior é rico em imagens barrocas e o altar com a imagem de São Francisco, retrata um período de esplendor da construção em arabescos e púlpitos além do chão em mosaicos portugueses.

Voltando para Brasília com sua linda esposa, Alberto tratou de arranjar um emprego para Marina, não porque precisava do salário, mas por insistência dela que era formada em secretariado e tinha curso de datilografia.

Utilizando de seus conhecimentos e influências na cidade, Alberto conseguiu uma indicação para sua esposa que foi trabalhar na Câmara com o Deputado Silveira da Costa, da UDN – partido do governo.

Os meses se passaram e Marina transbordava felicidade. Os negócios de Alberto continuavam de vento em popa e, a princípio, ele não percebia que Marina estava cada vez mais se distanciando dele. Incomodado com a situação ele teve várias conversas com a sua esposa sobre o assunto e ela desconversava.

– Nada, amor. Só estou muito cansada. Muito trabalho no gabinete, você sabe, né?

Alberto deu um tempo e nada mudou no relacionamento. Desconfiado, ele contratou um detetive que passou a seguir a sua mulher. Dias a fio o Bareta do Cerrado seguia Marina e nada. Era de casa pra o trabalho e do trabalho para casa.

Um certo, dia a casa caiu. O detetive Bareta entra na loja de Alberto esbaforido.

– Dotô, descobri tudo. A sua mulher acabou de entrar no Hotel Souza, no Núcleo Bandeirante, disse o detetive.

– Bem que eu desconfiava. Ela mudou muito. Já não era mais aquela mulher carinhosa que eu conheci. Quem é o safado?

O Bareta ficou preocupado com a reação de Alberto:

– Dotô, se controle. O senhor não vai fazer uma besteira. O amante é o chefe dela.

– O quê? ? ? O deputado Silveira da Costa? Vamos agora mesmo à delegacia do Núcleo Bandeirante que eu quero levar a polícia pra dar um flagrante naquela vagabunda. Se ela pensa que vai me trair e ainda pegar o meu dinheiro, está completamente enganada.

Naquela época, a mulher que cometesse adultério, perdia o direito da partilha dos bens no processo de desquite.

Em poucos minutos Alberto estava na delegacia de polícia da Cidade Livre e contou o caso para o Delegado de plantão. O Delegado Aderbal de pronto arranjou dois policiais e rumaram para o local do adultério.

O Hotel Souza ficava na Avenida Central do Núcleo Bandeirante. Era uma construção simples de madeira, com dois pavimentos e 13 quartos que serviam principalmente aos caixeiros viajantes que ficavam poucos dias na cidade em negócios e também um lugar tranquilo para os amantes.

A comitiva do flagrante chegou ao hotel e foi direta para o segundo pavimento, num quarto no final do corredor.

Ao entrar na alcova, Alberto se depara com uma cena que marido nenhum gostaria de presenciar. A linda Marina morena na cama com o deputado Silveirinha, não na situação tradicional de papai-mamãe, mas galopando como na música de Roberto Carlos. Chocado com o que via, Alberto se descontrola e parte para agredir sua mulher aos gritos.

O delegado Aderbal é tomado de surpresa. Esquece o nome do marido traído e grita aos seus comandados:

– SEGURA O CORNO!

Alberto se sente ofendido.

– Corno é o seu pai. Me respeite.

Fora de si, Alberto continua gritando com o delegado e parte para cima da autoridade para lavar a sua honra.

Ameaçado, o delegado Aderbal manda prender Alberto por desacato a autoridade.

Brasília, 25 de agosto de 1961. O presidente Jânio Quadros renuncia e é o começo do fim da UDN.

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